segunda-feira, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Carta Aberta à Comunidade Goiana sobre política, justiça social e meios de mobilização

Goiânia, 15 de Novembro de 2010

Passageiros Temporários

Considere-se Passageiro Temporário, todo aquele que assim como nós, idealizadores deste projeto, têm a legítima convicção que a luta por justiça e igualdade social, atingirá proporções tangíveis através da conscientização política dos cidadãos brasileiros. Outrossim, imprescindível para fazer valer o que é digno para todos, no que tange os direitos e deveres individuais/ coletivos, fundamentais para o desenvolvimento da sociedade com parâmetros inclusivos, pois vivenciamos uma distância abissal entre o discurso no papel e a realidade cotidiana, extraordinariamente representada pela desigualdade social.

O Projeto Passageiros Temporários é articulado ao MCM “Movimento Contra Miséria”, que tem mobilizado em alguns locais do país trabalhos de conscientização sobre políticas sociais e ações para erradicação da miséria. Não podemos simplesmente nos conformar com a lógica capitalista, que a desigualdade é inerente a uma ordem natural, entretanto é necessária a ruptura na lei estabelecida, esse estado de alienação que se opõe aos interesses sociais, especialmente na cidade de Goiânia e/ou Região Metropolitana, cenário desse processo.

Aos leitores desta Carta Aberta e agentes de transformação é importante esclarecer que este é um movimento apartidário, embora o discurso seja essencialmente de esquerda, contudo, não temos a intenção de empunhar a bandeira do Marxismo, mas acreditamos em pontos por ele defendido; nem tampouco utilizar o Evangelho de Cristo para catequizar as pessoas, considerando o fato que os idealizadores (as) deste projeto têm orientação cristã, porém abertos a outras crenças, lembrando que o reino de Deus não se limita a nós, posicionamentos “igrejistas” são irrelevantes. Entendemos que belos discursos não são suficientes para promover mudanças, ou seja, somente orar por quem passa fome e não estender a mão para alimentar, não mudará o fato de crianças e adultos dormirem de estômagos vazios todos os dias em nossa capital, isso é aterrador, dentre outros problemas que afligem a população.

A proposta está embasada em dois pilares, teoria e prática, respectivamente. A parte teórica engloba reunião do grupo para fomentar discussões relativas a:

*Conscientizar os participantes sobre os aspectos: político, social, econômico, ambiental e cultural da cidade de Goiânia e/ou Região Metropolitana, através de debates, mesas redondas, seminários, atividades in loco, dentre outros recursos;

*História e organização de movimentos sociais no Brasil e no mundo que representam vetores de transformação;

*Contextualização política – Brasil, América Latina; Mundo;

*Politizar a comunidade local quanto aos seus direitos e deveres sociais de acordo com a cultura e linguagem;

*Diagnosticar os principais problemas sociais da comunidade local definida para o desenvolvimento do projeto;

*Definir os aspectos sociais que serão abordados pelo projeto, por etapa, ou em conjunto;

*Traçar estratégias de execução do projeto etc.

Nossa interferência terá o objetivo de promover a politização da comunidade, como principal ferramenta no desenvolvimento de ações que repercutam positivamente na sociedade. Especialmente no tocante a erradicação da miséria, isto é, falta do necessário para viver. Miséria não se resume a não ter alimentação e moradia adequadas, abrange também à dificuldade de acesso a educação, emprego, assistência médica e odontológica, lazer, saneamento, segurança e ambiente favorável ao desenvolvimento da pessoa humana. O mais intrigante é que esses fatores representativos da miséria são temas sempre presentes nas agendas das campanhas políticas de nosso país, em todas as esferas, municipal, estadual e federal. Nossa missão é conscientizar o maior número possível de pessoas e assim juntarmos forças na cobrança e efetivação das políticas sociais; para que dignidade e qualidade de vida, não seja privilégio de apenas 10% da população brasileira.

Passageiros Temporários atentem para a condição também efêmera de tudo que nos cerca e que o fruto dessa simbiose do passado, presente e do futuro que desejamos está necessariamente ligado às posturas que adotamos e praticamos. O Brasil e o Estado de Goiás vivem um momento de transição política muito importante, devemos estar alerta quanto ao cumprimento das propostas de governo e suas conseqüências. Talvez não possamos provocar transformações em todo o Mundo, mas podemos sim, transformar os lugares por onde passarmos ainda que com fagulhas de justiça, cooperação, solidariedade e foco no ser humano. Porque não acredito que tenhamos tão pouco, ao ponto de não termos o que dividir: idéias, ideais, conhecimento, alimento, projetos, inclusão, enfim , novas perspectivas, apontar novos caminhos e o mais importante, caminhar junto, tão logo revolução.

Diante do exposto, conclamamos a todos para um encontro inicial, a fim de trocarmos idéias acerca do projeto.

Data: 28/ 11/ 2010 (Domingo)

Horário: 15 horas

Local: Parque Flamboyant

Atentamente,

Equipe Passageiros Temporários

“Somos passageiros temporários, com compromissos permanentes.”

O Fluxo da Maioria

Escrito por: Gito


Toda unanimidade é burra, dizia o saudoso poeta das palavras amargas, Nelson Rodrigues.

A massa percorre um caminho sistemático. Embasada pelas ondas da mídia e da moda, guiada pelos ídolos teens, dá as mãos ao conveniente e ao politicamente correto, ao status quo, faz jus às propagandas de refrigerante, e marcham sem rumo, mas não sem ritmo.

Essa geração nasceu prematura, os filhos da modernidade acostumaram à incubadora. Parece que gostam desse ambiente cercado de vidros, de cuidado e de sondas. Essa geração apresenta os sintomas da gripe: indisposição, dor no corpo, tosse e febre.
Indisposição com tudo que exige algum esforço. A incubadora os acostumou a receber tudo com facilidade. Dor no corpo, segundo a analogia de São Paulo, o apóstolo cristão do primeiro século que dizia que a comunidade de fé é como o corpo humano, uns membros necessitam de outros e não há qualquer um que seja insignificante. Bom, isso não acontece com esse “corpo moderninho”. Aqui, alguns membros são insignificantes. Amputam-lhes. E o corpo sofre a conseqüência com as dores intermináveis de tal operação e do mau funcionamento do que sobrou. Usando a analogia paulina, estamos nos decepando. Tosse é o que produzimos e vendemos. Vendemos tosse. Há tosses bonitas e feias, quem tossir com mais sequidão na garganta ganha mais dinheiro, é uma tosse que deveria ser considerada feia e incômoda, mas não, pois dá lucro. Na pós-modernidade, influencia mais quem tosse seco. Não querem um xarope expectorante, ele levaria embora a tosse e os lucros. Febre gera nossas alucinações. Nelas pensamos que somos super poderosos, que nossos canhões importam mais que nossas florestas, que há raças inferiores, que beleza importa mais que virtudes, que amor é tema de novela.

Então quem não está inserido no sistema precisa se readaptar as condições da massa ou abrir mão dessa readaptação para uma vida em caminhada pela contramão. Thoreau, o escritor americano disse que se um homem marcha diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor. No entanto, a massa chama esse homem de surdo e de burro.

Assim surgem os hereges, os loucos, os poetas, os místicos, os palhaços, os viciados, os camponeses sem terra, os pecadores, os voluntários, os velhos, as crianças, os fracos, os foragidos, os perseguidos, os famintos, vindos de toda a parte para viver fora dos muros da cidade e nas cavernas.

Nomes com que a massa chama a todos estes. Do lado de fora do muro, cada qual deve ser chamado pelo nome. Não há o que ele faz, o que ele representa, como ele se apresenta, mas quem ele é.

No livro bíblico primeiro de Samuel, no capítulo 22, há o relato dos que se reuniam na Caverna de Adulão. Homens endividados, em aperto e todos os amargurados de espírito que se juntaram a Davi, que se fez chefe deles, quando este também fugia do rei Saul que estava louco e planejava matar a Davi por inveja e medo de perder o poder. Esses homens foragidos formaram um exército poderoso. O povo chamava alguns heróis de guerra de “Valentes de Davi”, eram parte da guarda real, segurança pessoal do então Rei Davi, e estiveram com ele na Caverna.

Os homens excluídos da sociedade agora eram heróis do povo. Os que viviam amedrontados em cavernas agora cuidavam da segurança do palácio. Mas, o que eu quero frisar é que não mudou de povo, não era outra população. O povo na sociedade em que tais homens foram excluídos era o mesmo povo na sociedade que os tinha como heróis.

Eles se posicionam conforme lhes cabem. Uma adaptação social. Mudam os reis e governos, mas o povo continua apoiando a quem quer que seja. São unânimes diante de qualquer governança.

Os que se opõem são lançados para fora das cidades, para as cavernas e o povo lhes atribuem nomes.

O povo assiste e torce para aquele que está vencendo. Para o convincente. São politicamente corretos. A unanimidade é burra.

Nessa realidade há três posições: Aqueles do lado de lá dos muros, os poderosos e a massa de espectadores que apóiam os poderosos com aplausos, comentários unânimes e anônimos.

Posicionar é se expor. Esses são os unânimes. Se expor é tomar posição. Esses são os anônimos.

O politicamente correto trata-se de um individuo que não dá passos que não sejam pensados, avaliados, medidos. Cada gesto dele carrega significado, cada opinião dele tem implicações pro bem ou pro mal, e às vezes, pro seu próprio mal se ele andar num curso diferente daquele que significa o fluxo da maioria. O politicamente correto, portanto, examina, olha vê, Ele é um homem de bem, ele é um sujeito extremamente preocupado com os movimentos dele, com os gestos dele. Ele valoriza a auto-preservação. Por isso, ele não se posiciona de maneira que não lhe preserve, que não lhe transmita a sensação de segurança e de conformidade. Ele não se move se não estiver seguindo a marcha da massa.

A marcha da massa. O fluxo. Vão sem saber para onde vão. Não importa. Para eles, o que importa é estar no meio da multidão e muito bem adaptado a ela.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A Mediocridade Eclesial

Escrito por: Escobar

Quem irá ao céu?

Ou quem está destinado ao inferno?

Os homossexuais devem ser aceitos ou não?

As prostitutas podem cantar nas igrejas ou não?

Os pobres são pecadores?

O Pastor é homem de Deus?

A juventude pode ler Marx. Heresia?

Política não pode se misturar com a religião?

A mediocridade é uma doença que está impregnada na instituição eclesiástica há muitos anos, e seus defensores são aqueles que mais apoiam a negação de muitas destas questões. Os moralistas são os que através de um desabafo pessoal destinam os que tem posições diversas ao inferno, que as vezes mais parece com uma invenção para mandar os que perturbam a ordem eclesial, ou que lançam questionamentos que esta não consegue responder.

E as vezes aparecem vozes dentro dela com um ar revolucionário que não passam de palavras da mesma doutrina travestida nas chamadas “novas alternativas”, quando muitas destas “alternativas”na verdade são tão opressoras quanto as “antigas”, e muitas destas vozes do chamado mundo evangélico continuam enriquecendo-se as custas das mesmas estruturas. Possuem palavras confrontativas, escrevem livros e fazem sermões “maravilhosos” mas isto fica somente no âmbito das ideias, pois as estruturas hierárquicas e os vícios destas continuam os mesmos. São vozes distantes da realidade e escrevem do alto dos escritórios e afastados do povo e dos marginalizados, gerados muitas vezes pela própria instituição. Que vista o chapéu aquele que lhe servir.

As tramas que estes vivem são somente do lado dentro, não possuem a voz política em relação a sociedade e não possuem uma posição marcante para a sociedade do lado de fora, e muitas vezes falam de realidades que eles mesmos não conhecem.

Os budistas vão para o céu?

Os muçulmanos são povos excluídos?

Os povos originários da América Latina não acreditam no nosso Deus?

As religiões afros são idolatras?

Monopolizam o Reino e a verdade, quando na verdade para Cristo o Samaritano foi o próximo, o Centurião teve fé e o que dizer da Sírio Fenícia? O próprio Deus encarnado no filho do carpinteiro pobre não teve essas preocupações, pois acima de nacionalidade e crenças estava o ser humano, e este é o alvo do seu amor e da sua ação. Os povos originários Latino americanos tinham uma fé e um relacionamento com a terra de tirar o chapéu e talvez uma pureza contaminada com a chegada da chamada “civilização” ao nosso continente, e o que dizer das chamada ações de guerra contra o alcorão, chamam o muçulmano de violentos sendo que muitas vezes em nome de Deus exterminaram-se muito destes povos.

A preocupação maior do Cristo da galileia é o homem na sua plenitude e sua luta é a luta contra a desumanização e injustiça dos poderosos em relação aos pobres e ao povo, posição esta que teve que ser muitas vezes de ordem política o que o levou a morte da cruz, deste homem que veio subverter a ordem vigente com uma oferta de um Reino igualitário dentro de uma estrutura opressiva. E porque os escritos do Profeta Marx devem ser heregizados se há uma preocupação pelo ser humano em condições de opressão?

Jesus é nosso Deus!

Jesus nos ama, pois não faltamos ao “culto”!

Se o Cristo encarnado estivesse andando nas ruas em 2010, com certeza estaria com:

Os pobres, marginalizados da globalização.

Os Gays e Lésbicas em Israel.

Com os índios em Chiapas.

Com os sem terra e os que trabalham em condições de exploração no nordeste.

Com os nossos irmãos nas usinas da cana.

Com os Mapuches no Sul do Chile e com os mineiros do Norte.

Com os Latinos nos Estados Unidos.

Com as mulheres no Islã.

Com os trabalhadores explorados nas minas do Congo.

E com aqueles que sofrem e lutam pela humanização dos excluídos em qualquer parte do mundo, independente de uma fé cristã declarada, pois a causa do Reino ultrapassa estas barreiras.

A questão que deveria preocupar as instituições eclesiásticas é que:

Preocupadas com as mediocridades estão ficando de fora da luta histórica de homens e mulheres que tentam uma nova alternativa em um sistema opressor.